O resgate da dignidade pelos livros: clubes de leitura em presídios

Projeto da Companhia das Letras em parceria com a Funap transformam penitenciárias em espaços de encontros, de reflexões e de pertencimento Todos os meses, exemplares de obras editadas pela Companhia das Letras são transportadas pelo estado de São Paulo com destino e finalidade bem definidos: 12 penitenciárias que fazem parte de um trabalho muito cuidadoso e que trata com humanidade cerca de 250 presidiários, integrantes dos clubes de leitura, promovidos em parceria com a Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” – FUNAP, órgão vinculado à Secretaria de Estado da Administração Penitenciária. A ideia de clubes de leitura já é bem sucedida em outros contextos histórico-sociais e ganha cada vez mais força no Brasil. Pesquisas sobre hábitos leitores no país motivaram profissionais da Companhia das Letras a criar um projeto de incentivo à leitura e formação de leitores. A princípio, a iniciativa funcionaria em livrarias e dentro da própria editora, mas a possibilidade de transformar espaços hostis em lugares de encontro, de reflexão, de pertencimento, nos quais que cada leitor possa traçar e construir o seu percurso próprio nos diversos mundos da leitura, motivou os integrantes do Departamento de Educação do Grupo Companhia das Letras a seguir em frente. O último relatório da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil de 2015, mostra que o brasileiro em idade escolar lê em média 4,96 livros por ano, e a maior parte dessa leitura está concentrada em livros didáticos. Essa média ainda decresce após o término dos estudos. “Assim, os clubes de leitura também estão afinados aos ideais de democratização de conhecimento, uma vez que os debates coletivos nos encontros permitem que os leitores troquem ideias, interpretações e informações entre si”, explica Vanessa Ferrari, mediadora do clube da penitenciária do bairro de Santana. Hoje o projeto é realizado em 12 penitenciárias no estado de SP, masculinas e femininas. Os ganhos são muitos: a reflexividade, a possibilidade de ir para outros cenários, a ampliação de interpretação de si próprio, de sua relação com o outro, da compreensão do mundo e de outras trajetórias, a releitura da própria vida e do outro. Como funciona o projeto Cada unidade prisional participante forma um grupo de 20 reeducandos, que recebem o prazo de 30 dias para ler uma obra previamente definida. Após a leitura, o grupo se reúne e, com o apoio de um mediador cedido pela FUNAP e capacitado pela Companhia das Letras, debate temáticas pertinentes ao contexto da narrativa. Além disso, os presos participantes fazem a entrega de uma resenha a cada leitura realizada, que é submetida à avaliação para pedido de remição de pena pela leitura. A cada livro que o preso lê, ele pode reduzir 4 dias de sua pena. Ele pode um livro por mês – por ano, ele pode ter 48 dias de remissão de pena.