IPL no oitavo Encontro do PROLER, em Ilhéus, Bahia

Ao entrar em contato com realidades de escolas em situação precária de funcionamento, Zoara Failla, do Instituto Pró-Livro, enfatiza a importância de defender o direito dos nossos alunos à leitura, ao livro e à literatura Por Zoara Failla, Coordenadora da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro O Instituto Pró-Livro é, com frequência,  convidado para apresentar a Pesquisa Retratos da Leitura do Brasil, em encontros que são realizados pelo Brasil. Desta vez, o encontro foi promovido pelo PROLER e aconteceu na Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus, na Bahia. Esse local privilegiado para estudos possibilitou a participação de professores universitários, alunos dos cursos de letras e pedagogia, professores da rede de ensino local, além de representantes dos órgãos de educação e cultura de Ilhéus. Nessas “viagens” pelo Brasil, mais aprendemos do que levamos informações. E, foi o que aconteceu em Ilhéus. Participamos do IV Fórum de Políticas Públicas do Livro e da Leitura do Sul da Bahia, e, ouvimos a Ana Paula Santos S. Teixeira , do Conselho Regional de Biblioteconomia, contar como desenvolve seu trabalho , ao “fiscalizar” as bibliotecas que visita. Com uma visão lúcida sobre nossa realidade e dificuldades, nos conta que desempenha um papel mais de assessoria e orientação, do que de fiscalização, pois tem clareza de todas as lacunas e deficiências enfrentadas pelas bibliotecas, ou espaços que são assim chamados,  e, as dificuldades que bibliotecários, ou voluntários, ou, aposentados, enfrentam  para manter funcionando esses “espaços” chamados, às vezes, também, de salas de leitura: acervos desatualizados, quando não deteriorados; livros em caixas ou no chão;  salas sem iluminação, sem móveis , sem material para controlar empréstimos; sem…Mas, não imaginava que esse cenário, que ilustrou a fala da Conselheira, era dos melhores na região. Fui procurada pela professora Siomara Castro Nery. Ela me contou que está aplicando uma pesquisa nas escolas do campo, para saber como e se realizam práticas leitoras nas escolas. A situação é desafiadora. Sabemos que as salas são multisseriadas, que os ambientes são inóspitos, que muitas não têm banheiros (como mostrou uma reportagem da rede Globo, recentemente); e, as dificuldades dos professores para conseguirem dar conta do currículo e desenvolverem suas aulas em ambiente tão sem estímulos e recursos. Nesse contexto, ficamos até sem jeito de perguntar se, nessas escolas, têm uma sala para a leitura ou para os livros.  Mas, o pior é que, também não sabemos como perguntar se, nessas escolas, os alunos têm ou tiveram acesso a livros de literatura. Triste constrangimento! Talvez por vergonha ou desalento. Pior é saber que não são somente escolas do campo em Ilhéus que enfrentam essa exclusão. Segundo a professora, a grande maioria nunca leu um livro de literatura. Estão excluídos plenamente desse direito. Na mesma semana, uma Audiência Pública aconteceu em Brasília. O objetivo dela era promover discussões e reunir sugestões para o MEC, de modo a estabelecer uma ação ou uma política de garantia e apoio técnico e financeiro para que as escolas tornem ativas salas de leitura ou bibliotecas e, que retome o Programa Nacional de Biblioteca da Escola (PNBE).  Fui entrevistada pela rádio da  Câmara dos deputados, de Brasília, para falar sobre esse tema e sobre a universalização das bibliotecas escolares . O assunto se mantém em pauta, o que é bom, mas, quais ações efetivas acontecem para que esses alunos das escolas de Ilhéus e de tantas outras pelo Brasil , garantam seu direito à literatura, ao acesso aos livros e às práticas leitoras em sala de aula ou em qualquer outro espaço das escolas? Onde estão os livros? Defendemos os direitos dos alunos das escolas urbanas. Também, não estão sendo atendidos, e, o pior, estamos piorando esse atendimento, sob um argumento perigoso de que os livros que foram distribuídos (até 2014) não foram lidos, ou, ainda, que estão nas caixas. Não se faz um estudo para saber por que não foram lidos e para se investir para superar essas lacunas. Nosso presidente Torelli falou algo que ficou comigo: “ se o remédio não está curando o doente, melhor desistir do doente”. SE nossos alunos não estão lendo os livros que foram distribuídos, paramos de distribuir. É essa a solução??? SE, ao menos, tivessem proposto algo como: vamos investir um ano na formação do professor leitor ou do mediador de leitura, e,  no ano seguinte,  na distribuição de novos acervos e na  infraestrutura das bibliotecas ou salas de leitura. A pior avaliação sobre as bibliotecas, segundo a Retratos da Leitura no Brasil, diz respeito aos acervos. Quase 70% dos alunos dizem que não encontram os livros indicados pelos professores ou que gostariam de ler. Mas, estamos falando de alunos “privilegiados”: eles têm acesso à livros em bibliotecas escolares. Não podemos aceitar essas exclusões, em especial, as que acontecem no campo e nas escolas do interior do Brasil. Temos que defender o direito dos nossos alunos à leitura, ao livro e à literatura. Mas, o XIII Encontro do PROLER, em Ilhéus, também trouxe esperanças.  Foram realizados muitos debates que reuniram alunos, professores e gestores públicos para discutir possíveis caminhos para enfrentar os muitos desafios. A professora Glória de Fátima, incansável na luta pela implantação dos Planos do Livro e Leitura na região sul da Bahia, conseguiu mobilizar os principais atores para a criação de um grupo que deverá pensar alternativas a partir das reflexões e angústias daqueles que acreditam no poder transformador da leitura e militam para melhorar a qualidade e os indicadores de leitura. Nesses encontros,  não só aprendemos mais do que levamos  informações; eles alimentam nossa vontade de continuar militando por esse direito.