Raissa Martins, do Livres Livros, dá dicas sobre como captar recursos

A Fundação Americana The Little Free Library, a Odebrecht Ambiental, a Braskem e o Governo do Estado da Bahia estão entre os apoiadores da iniciativa. Saiba como os organizadores conseguiram o feito e conheça dicas para chegar lá Desde maio de 2015 praças das cidades de Salvador, na Bahia, e de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, têm se transformado em espaços dedicados à leitura e troca de livros. Nos espaços públicos foram instaladas caixas, como se fossem de correio, que estão abertas para receber um livro ou incentivar quem queira iniciar uma nova leitura. Trata-se do projeto Livres Livros, apoiado pela Fundação Americana The Little Free Library que instalou mais de 50 mini bibliotecas em praças públicas capixabas e baianas. Para manter as caixinhas sempre abastecidas, além de contar com as contribuições de voluntários e dos apoiadores institucionais, o Livres Livros ainda promove campanhas de desapego literário para arrecadar livros, que são distribuídos pelas unidades do projeto. A iniciativa é apoiada pela Odebrecht Ambiental, pela Braskem e pelo Governo do Estado da Bahia. Raissa Martins, organizadora do Livres Livros, conta como o projeto conseguiu tantos apoiadores e que forma articula as parceiras para tornar a iniciativa cada vez mais fortalecida. Veja o que ela disse: De que forma os apoiadores contribuem para a sustentabilidade e a expansão da iniciativa? Primeiro é importante dizer que Livres Livros é um movimento que pretende gerar um ciclo virtuoso de boas influências na sociedade desde sua criação, uma das propostas do projeto é convocar o cidadão a exercer seu papel, a exercer a auto responsabilidade, a olhar para o bem público como algo que lhe pertence. Nós atuamos nas ruas da cidade, dialogamos com as pessoas a todo o momento e nos preocupamos muito com esse momento de ter uma conversa e deixar para cada um a provocação: “O que você está espalhando? Somos o que espalhamos, não o que juntamos!” Para mim, inspirar outras pessoas a agir é tão importante como o ato em si de realizar, ganhamos multiplicadores do bem. Nossos apoiadores são fundamentais para nossa existência e temos o entendimento que os encontramos em vários níveis, os dispostos a participar de uma ação simples aos que querem fazer parte de algo maior, por isso trabalhamos seguindo estes passos: Inspiração – realizamos palestras presenciais e provocações nas redes sociais com o objetivo de sensibilizar as pessoas. Uma vez sensibilizadas, as pessoas nos procuram e perguntam como podem apoiar a iniciativa e nós devolvemos a pergunta, “como você pode colaborar com esse trabalho de benfeitoria pública?”, neste momento nos agarramos ao que cada um pode fazer: doação de livros,  escolher uma unidade de mini biblioteca para “derramar afeto” sobre ela ao cuidar e zelar pelo instrumento público (arrumando, limpando, dialogando com o entorno). Outras formas possíveis são: investir financeiramente no projeto: por meio da aquisição dos nossos produtos, adotando uma unidade de mini biblioteca livres livros para instalarmos numa comunidade, nos convocando para palestras remuneradas, patrocinando nossa presença em espaços onde possamos ampliar nosso alcance e sensibilizar mais pessoas (Feiras Literárias, Feiras diversas, espaço em shopping center, etc.), ser um multiplicador do nosso propósito, criar nos ambientes de trabalho possibilidades de trocas de livros, participar de nossas ações: oficinas, contação de histórias, pesquisa, etc., usar talentos ou empresas para nos apoiar nas atividades: design, apoio no site, assessoria de imprensa, agência de publicidade, veículos, etc., ser um voluntário que faça o recolhimento de livros doados, dialogar sobre nossa iniciativa e levar nossa missão ao conhecimento de mais e mais pessoas, enviar para nós notícias sobre livro, leitura e afins, nos dar notícias sobre a unidade livres livros instalada próximo ao local que frequenta. Realização – buscamos por parcerias que fortaleçam o projeto em diferentes lugares, por exemplo, em Universidades. Temos alunos participando de nossa iniciativa e garantimos nossa presença nas instituições para dialogar sobre nossas atividades. Temos parceria para colaboração mútua com algumas instituições em Salvador e por seis meses recebemos um voluntário irlandês da Universidade de Princeton/CA, em nosso movimento. Nos aproximamos de escolas particulares para arrecadar livros, buscamos empresas que possam colaborar, seja com serviço, seja com investimento financeiro; estamos sempre disponíveis para dialogar sobre o projeto com a imprensa, assim como estamos sempre provocando os veículos a tratarem do tema seja com a gente, seja por meio de iniciativas similares e encontramos pessoas dentro da instituição pública que acreditavam em nossa missão e através delas fortalecemos nossas ações estabelecendo outras parcerias internas. São muitas as possibilidades e cada uma delas é importante do mesmo tamanho para nós. O segredo é ter paciência, disponibilidade, humildade e amor para escutar as pessoas e entender como cada uma pode colaborar, fazendo todos acreditarem em sua importância dentro do processo de melhorar o convívio coletivo. Provocamos a reflexão por meio da simplicidade e assim ganhamos parceiros livreiros apaixonados pela iniciativa do movimento, que a princípio foi minha, mas depois consigo que acreditem que o projeto não é meu, é deles, é nosso. Ou cuidamos, ou ficamos sem ele. Há centenas de voluntários que nem conhecemos, outra centena com a qual dialogamos via redes sociais, presencialmente ou através de parceiros. Uma rede cuidando e fazendo, é mais, muito mais que uma pessoa agindo. Como o projeto conseguiu o apoio ou o patrocínio que recebe? Atribuo essas conquistas ao planejamento, a uma forte construção na base do projeto, com investimento próprio, e à minha disponibilidade, pois coloquei minha expertise e meu conhecimento a serviço da realização do projeto. Trabalhei nele como se trabalha num projeto comercial, cumpri com etapas preparatórias importantes: realizei pesquisa de campo para conhecer sobre o que falamos (bibliotecas públicas, a relação entre as pessoas e os livros, onde as pessoas menos favorecidas praticam o hábito de ler) e solicitei a chancela da Little Free Library para usar a ideia elaborada por eles, de mini bibliotecas, respeitando e ampliando o alcance da sua criação, sendo corretos desde o início. Em seguida, criamos uma identidade visual significativa, montamos uma estratégia de marketing que possibilita realizar a entrega social e ao mesmo tempo demonstrar para as marcas que elas poderiam comunicar por meio do posicionamento do nosso projeto. Daí visitei dezenas de instituições apresentando a proposta do projeto e os objetivos pretendidos, inscrevi o projeto em editais públicos, participei de eventos nos quais foi possível dialogar com as pessoas e conquistar o apoio da sociedade civil, realizei ações com voluntários que chamaram a atenção da mídia e da comunidade, fiz as primeiras implantações com investimento próprio e cuidei das partes legais: registro de marca, autorização do órgão público, créditos necessários. Assim, conseguimos dados, números, depoimentos qualitativos para demonstrar as empresas que nosso sonho era possível, que firmar parceria conosco poderia trazer bons resultados de imagem e valor afetivo para a marca, que somos sérios e corretos no que nos propondo a fazer e que entregamos o que prometemos. Pode compartilhar essa experiência sobre como preparar o projeto para captação de recursos? Para captar recursos se faz necessário duas coisas: preparação/planejamento e persistência. Vale dizer que trabalhei na indústria do entretenimento muitos anos, na qual criei uma rede profissional importante que foi acionada para colaborar com essa missão, além dos amigos, essas pessoas que nos conhecem bem e podem acionar também sua própria rede de amigos para também colaborar com a missão. Enfim, se você acredita, se você quer de fato fazer, arregaçou a manga, quem está ao seu redor vai acreditar também e certamente irá ser fundamental para a conquista do objetivo. Minha dica, além do cuidado inicial com planejamento/preparação, lembre de preparar um material capaz de comprovar que o que você pede de apoio financeiro você conseguirá entregar como resultado, e que o seu propósito esteja alinhado com seu projeto porque num primeiro momento você encontrará obstáculos, descrença e muita gente do contra. Se você não estiver completamente convicto da sua missão não conseguirá convencer as pessoas a investirem nela. Acredite em você, depois vá pedir que os demais acreditem também! Eu tinha uma meta em 2015 que era implantar 50 unidades de mini bibliotecas livres livros e realizar ações ações de fomento a importância do hábito de ler, três anos depois, temos as 50 mini bibliotecas livres livros instaladas, um livro publicado, mais de 200 ações realizadas, mais de 50.000 livros distribuídos gratuitamente, um bosque literário implantado no maior parque público de Salvador, milhares de pessoas impactadas diretamente e empresas parceiras como Braskem, Shopping Bela Vista, Posto BR Cidade Jardim, Uranus2, Mago comunicação, Comunicativa Assessoria de comunicação, Odebrecht, Fundação Gregório de Mattos, Governo do estado da Bahia, Prefeitura do Salvador, Cetrel, Prefeitura de Camaçari/BA, Prefeitura de Cachoeira/BA etc. Quais orientações você daria para organizadores de projetos de leitura que queiram começar a captar recursos ou buscar patrocínios? Primeiro crie uma rede de voluntários ao seu redor: amigos, família, colegas de trabalho. Assim, você consegue iniciar seu projeto, se familiarizar com ele, compreender como funciona e o que de fato você precisa para consolidá-lo. Sair do plano das ideias é fundamental para compreender as necessidades primárias do projeto. Para buscar por apoio financeiro, patrocínio, é preciso ter dados, ter capacidade de demonstrar para as empresas ou investidores que o que você está propondo é relevante, é possível, que há equivalência entre investimento e entrega.   Depois, é fundamental pesquisar por empresas que tenham responsabilidade social, que costumam investir em projetos sociais, empresas que estão situadas próximas ao local onde seu projeto tem atuação. Identificando essas empresas, busque uma reunião com o setor responsável para apresentar o seu projeto, o que deseja delas e como será a contrapartida para eles. Saber o que pedir é tão importante quanto saber defender seu projeto. Por fim, é preciso ter humildade para lidar com todo o processo, saber dizer não para o que não é relevante e que, por vezes, ocupa seu tempo no caminho da prospecção, o tirando do foco.