Analfabetismo funcional e desenvolvimento social

Rebeca Otero, da Unesco, e o economista Eduardo Gianetti comentam o papel dos educadores para a construção de uma educação para a cidadania global Logo após a apresentação do Inaf 2018 (saiba mais sobre o assunto aqui), o painel de discussões organizado pelo Instituto Pró-Livro sobre os desafios para garantir o direito à leitura recebeu economista Eduardo Giannetti e da coordenadora de Educação da Unesco Brasil, Rebeca Otero. Eles trataram da relação entre o analfabetismo funcional e o desenvolvimento social no Brasil. Em sua fala, Giannetti chamou a atenção para a configuração da demografia brasileira e de como a baixa da taxa de fecundidade no Brasil vai fazer com que o investimento per capita suba nos próximos anos. “Com menos alunos entrando nas escolas, teremos uma ótima oportunidade de encarar os desafios da qualidade da educação no país”, diz. Giannetti ressaltou que, diferentemente do que podemos pensar, o Brasil investe, proporcionalmente, mais em educação do que a grande maioria dos países da Europa – 6%. No entanto, a percepção de que não investimos o suficiente, na visão do economista, faz sentido, pois há um gasto desproporcional para o ensino superior. Para Giannetti, o aluno da rede pública brasileira não é formado para ter autonomia cognitiva nem é preparado para lidar com a leitura de forma autônoma. “Precisamos corrigir a ideia de que aprender é reproduzir mecanicamente o que foi dado”, conclui. Educação como objetivo para o desenvolvimento sustentável Rebeca começou sua apresentação enfatizando a alfabetização como condição para a garantia dos outros direitos humanos. “Todo mundo tem direito a se alfabetizar, independentemente de faixa etária, a alfabetização é um direito humano porque ela é condição para todos os outro direitos: à saúde, ao transporte e melhora a capacidade das pessoas”, diz. A representante da Unesco chamou a atenção para o número de adultos analfabetos no mundo, que ultrapassam os 750 milhões de pessoas. Por isso, como forma de contribuir para a mudança urgente do quadro, Rebeca contou que a ONU estabeleceu a qualidade da educação como um dos objetivos para o desenvolvimento sustentável (ODS). “Temos uma agenda (a 2030), na qual foram estabelecidas as condições essenciais para o desenvolvimento humano, como acabar com a fome e fornecer educação adequada. O documento foi assinado por 195 países, inclusive o Brasil”, conta. Em sua fala, ela também conceituou o que a Unesco chama de Educação para a Cidadania Global, que é aquela em que o aluno aprende a aprender, a fazer, a conviver e a ser. “Nossa educação hoje forma pessoas que têm conhecimentos para o vestibular, não cidadãos que sabem reconhecer seu planeta, que qualificam a vida, que respeitam o próximo e os direitos humanos”, afirma. Rebeca trouxe um outro dado bastante interessante e que tem relação direta com os direitos humanos e a democracia: quase 50% dos cidadãos latinos não estão satisfeitos com a democracia (50%), não a reconhecem como um sistema que garante direitos e, por isso,  aceitariam viver em uma ditadura, caso o governo apresentasse bons índices de crescimento da economia. A representante da Unesco encerrou sua fala citando dados da pesquisa “Desigualdades de aprendizado entre alunos das escolas públicas brasileiras: Evidências da Prova Brasil (2007 a 2013)”, na qual foi comprovado que o hábito de leitura favorece à aprendizagem. Ela também citou que os estudantes que se encontram em níveis mais baixos de aprendizado estão em escolas em que o acesso ao livro e a diversidade de acervo são mais precárias. “Infelizmente temos que reforçar o óbvio para destacar a importância disso”, diz. “ Também é importante ressaltar que quanto mais gestores e professores forem capazes de compreender o entorno das crianças, mais a escola vai proporcionar a ela aprendizagens relevantes e que possibilitem a elas seguir aprendendo”, diz.