Condições e desafios para a integração das bibliotecas aos currículos

Pesquisadores, bibliotecários, autoridades brasileiras e representantes da cadeia produtiva do livro dialogam sobre a importância de atrelar o currículo às bibliotecas das escolas públicas  O IPL está organizando uma pesquisa sobre a importância das bibliotecas do processo educativo. A principal contribuição dessa pesquisa será ampliar a abrangência desses estudos, incluindo escolas públicas do ensino básico de todas as regiões do Brasil, com o objetivo de conhecer e identificar condições que podem possibilitar que a biblioteca escolar se constitua em um espaço de aprendizagem integrado ao currículo escolar. Para celebrar o lançamento oficial do estudo, o IPL realizou um painel de discussões na Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Na ocasião, educadores, representantes da área da Biblioteconomia, do IPL e do Insper discutiram a pertinência e a relevância de um levantamento como esse. Estiveram presentes Ângelo Xavier (Abrelivros),  Bernadete Campello (UFMG), Luís Torelli (presidente do IPL e CBL), Wilson Troque (Coordenador programas do livro do FNDE/MEC), Adriana Ferrari (Febab);  Christine Fontelles (Programa “Eu Quero Minha Biblioteca”); Helen de Castro S. Casarin (da UNESP), Sergio Firpo (coordenador da pesquisa pelo Insper); Regina Céli de Sousa (CRB8); Zoara Failla (coordenadora da pesquisa pelo IPL) e Cláudio Marcondes (Unesp). O debate foi aberto por Iracema Nascimento, da Faculdade de Educação da USP e secretária executiva Rede Leitura e Escrita Qualidade para Todos, que ficou responsável pela mediação do debate feito após as apresentações. Parâmetros para as bibliotecas brasileiras A primeira convidada a falar foi Bernadete Campello, professora coordenadora do grupo de estudos em bibliotecas escolares da Universidade Federal de Minas Gerais e responsável pela pesquisa e pela publicação de parâmetros para bibliotecas escolares, que iniciou sua apresentação tratando da distribuição das bibliotecas por municípios no Brasil. A professora apresentou um mapa que ressalta a discrepância da distribuição das bibliotecas no país, pois a região norte é bem menos abastecida do que a Sul. A outra questão levantada pela pesquisadora foi a distribuição de bibliotecas por etapa de ensino nas escolas públicas brasileiras, já que as instituições que oferecem etapas de ensino em que as crianças deveriam estar criando a cultura do uso de bibliotecas, a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, são as que possuem o menor número de bibliotecas. “Todo o esforço que o Brasil está fazendo para ter bibliotecas nas universidades é jogado fora porque as crianças não estão criando uma cultura de bibliotecas. Isso significa que eles chegarão ao ensino superior sem enxergar a necessidade delas”, diz. Apesar de todos os problemas que o Brasil apresenta, Bernadete ressaltou os pontos positivos, que podem ajudar o país a avançar: a existência de muitos grupos de pesquisa de universidades brasileiras que produzem conhecimentos sobre o assunto, conhecendo a realidade e buscando soluções; o envolvimento da comunidade bibliotecária e um sistema consolidado de cursos de biblioteconomias, com formação constante de bibliotecários e boa tecnologia para serem implementadas nas bibliotecas escolares. A professora encerrou sua participação citando a BNCC como um fator incentivador para a participação das bibliotecas nos currículos escolares, já que as habilidades informacionais têm um grande papel no desenvolvimento de competências da base. E, por isso, espera que as bibliotecas possam ser consideradas cada vez mais espaços de aprendizagem. Biblioteca escolar como espaço de aprendizagem Em seguida, Helen de Castro Casarin, professora da Unesp falou sobre a importância da biblioteca escolar como espaço de aprendizagem. Na visão dela, o conceito de biblioteca que os gestores e os professores de determinada instituição tem é o que vai determinar o papel dela na formação dos alunos, pois são esses educadores quem definem de que forma os livros são disponibilizados na escola.Helen chamou a atenção para a importância da formação da equipe docente da escola, para que os educadores consigam entender a biblioteca como um espaço que contribui para as aprendizagem dos alunos.”A biblioteca não diz respeito apenas a um espaço de acesso ao livro e à leitura. Precisamos dar as ferramentas para ajudar as crianças a buscar informações e relacioná-las. E isso implica na existência um profissional responsável por ela, alguém que não apenas faça o empréstimo e a devolução das obras, mas que participe e na aplicação e no desenvolvimento das atividades de apoio”, diz.  A biblioteca escolar e a formação do leitor literário Christine Fontelles, coordenadora da Campanha Eu quero minha biblioteca, começou sua palestra dizendo que é muito importante que seja definido qual tipo de biblioteca escolar se quer ter, bem como a educação que se espera que as crianças brasileiras recebam. Na visão dela, a escola precisa ser uma comunidade de leitores e escritores e um espaço que forma seres humanos integrais. Por isso, a biblioteca deve dialogar com o projeto pedagógico da escola. “Não nascemos leitores, nos tornamos leitores, constituímos valores na interação com outros seres humanos” diz. Christine chamou a atenção para a necessidade de as equipes escolares reverem a relação dos projetos pedagógicos com a literatura, que tem sido usada de uma forma funcional, em vez de contribuir para o estabelecimento de uma jornada leitora que privilegia leituras que instiguem a pensar. “Estamos falando de uma leitura que demanda esforço”. “Os alunos leem os livros, mas ninguém conversa sobre eles”, diz. Em sua fala, ela também defendeu que a biblioteca tem que fazer parte da centralidade da arquitetura da escola, assim como fazem as salas de aula e as quadras recreativas porque ela é um espaço de sociabilidade, de leitura e de pesquisa. “Dar a ela esse lugar central implica em formar professores leitores e em abrir o espaço para as comunidades, para que sejam construídos vínculos de experiências permanentes com a literatura”, conclui. O que defendem os órgãos de representação dos bibliotecários? Adriana Ferrari, presidente da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (Febab) e Cláudio Marcondes de Castro Filho, pesquisador na área de bibliotecas e políticas públicas e professor na USP de Ribeirão Preto e Unesp de Marília; falaram sobre a importância do avanço do debate sobre o trabalho do bibliotecário, que muitas vezes é visto como um catalogador e não como alguém que pode contribuir para o projeto pedagógico da escola. “Precisamos transformar a biblioteca da escola em espaço de convergência, que possa integrar toda a escola, um espaço onde se possa discutir tudo. Um bibliotecário tem que mostrar como a biblioteca é importante para a vida da pessoa”, diz Adriana. “Acreditamos que as bibliotecas são as pessoas, por isso, as bibliotecas são mais que coleções. Estantes de livros são apenas estantes de livros. Ouso dizer que podemos ter uma biblioteca sem livros mas não podemos ter uma biblioteca cheia de livros sem gente”. Os representantes dos bibliotecários também ressaltaram a importância da criação de um sistema nacional de bibliotecas escolares, pois não há informação suficiente sobre o que as escolas fazem com os livros que recebem, sobre quais ações são desenvolvidas nela ou sobre quais papéis desempenham os responsáveis pelos espaços.   Para conhecer os destaques da participação do IPL, clique aqui e aqui.