Na baixada fluminense, as bibliotecas se organizam

A Rede Baixada Literária promove o fortalecimento das iniciativas em prol da leitura desenvolvidas pelas bibliotecas locais nesta região, mapeando a atividades, compreendendo as defasagens e atuando na superação das mesmas. Por Leonardo de Sá A Baixada Fluminense é uma região carente de bibliotecas públicas e espaços de circulação literária, atividades culturais e de formação. A cidade de Nova Iguaçu, por exemplo, conta apenas com uma única biblioteca municipal, e todos os equipamentos públicos culturais estão localizados no centro da cidade, deixando as periferias à míngua quando o assunto é oferta de territórios de produção de cultura. Além disso, a morosidade do poder público em efetivar políticas culturais alia-se a desigualdade social, configurando um cenário de extrema vulnerabilidade social na região. Nesse sentido, se é evidente o fato de que incentivos precisam ser oferecidos para promover o surgimento de novos equipamentos culturais, urge a manutenção daqueles que já existem e que continuam a tocar suas atividades mesmo em cenários adversos. Nesse contexto, a compreensão de a melhor saída era a união foi responsável pela criação da Rede Baixada Literária. Criada há dez anos, a Rede tem como principal objetivo fortalecer a existência e manutenção das bibliotecas públicas e comunitárias situadas na região da baixada, ampliando seu acervo, programação, campo de atuação e público atingido. “O grupo tem muita consciência política e conhecimento do território, fazendo com que todos sintam-se pertencentes ao projeto”, comenta Patrícia Diaz, membro da comissão avaliadora do Prêmio IPL. A iniciativa surge em 2010, unindo bibliotecas que já existiam na Baixada Fluminense e que recebiam apoio do Instituto C&A. Após encontros e reuniões de oficialização do projeto, o agrupamento de bibliotecas criou pra si um plano de ação que deveria ser desenvolvido ao longo de três anos. Em seu primeiro ano de atuação, o foco deveria ser no acervo, espaço, mediação e gestão para fortalecimento das bibliotecas comunitárias. Em seguida, aliados a este primeiro item, foram desenvolvidos eixos de atuação complementares, pensando na gestão compartilhada, na comunicação e na incidência pública das atividades. É possível compreender, através das ações empreendidas, uma perspectiva de consolidação da rede a partir da realidade material com a qual eles lidavam à ocasião – partindo das defasagens detectadas – rumo a uma intervenção política no modo como se geriam e como se relacionavam com o público. A adoção da gestão compartilhada como metodologia de administração é um importante aspecto da Rede Baixada Literária, pois serve de exemplo de agência da democratização dos poderes na superação de problemas pertencentes a realidade local. Tal orientação surge a partir do regimento de compromisso interno da Rede que, por sua vez, vincula-se também a uma outra rede de bibliotecas comunitárias cuja atuação se dá no âmbito federal: a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC).