Na garagem tem uma biblioteca

A Sala de Leitura Ojuobá é um exemplo de como a força de vontade e as iniciativas empreendidas com responsabilidade social podem fazer a diferença nas realidades em que intervém Por Leonardo de Sá Quando os espaços não existem, quando as iniciativas não alcançam a realidade, que alternativa melhor do que lidar com as possibilidades que se tem às mãos para dar vazão aos desejos? Foi em uma garagem, nos momentos de ócio em que o carro que ela costumava guardar não se encontrava por lá, que instalou-se a Sala de Leitura Ojuobá. Ao longo de nove anos, o espaço converteu-se em uma biblioteca comunitária cujo principal intuito é incentivar o hábito da leitura nos arredores, promovendo-o enquanto atividade motora de prazer e lazer. Seu público alvo são crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, e é para eles que as atividades promovidas pela Sala de Leitura Ojuobá são pensadas, sempre em prol de uma utilização paralela da arte e da tecnologia como ferramentas motrizes do desenvolvimento social e cognitivo das pessoas em formação. Dentro da Ojuobá, circula uma moeda própria, a Aimirim – “formiguinha” em Tupi Guarani. Com ela, os frequentadores são pagos pela frequência de seus empréstimos e assiduidade nas atividades e no compromisso com as responsabilidades típicas de todo usuário. Também com ela, eles podem pagar pela utilização de serviços de informática e internet, e pelos itens consumidos nas atividades lúdicas realizadas no espaço – como festas e eventos recreativos. Através da Aimirim, não só a relação dos frequentadores com a biblioteca muda em termos quantitativos como também qualitativos: eles são compelidos, deste modo, a refletir na prática sobre as suas relações de consumo e circulação de dinheiro, bem como a necessidade e economizar e prever seus gastos.   “Projeto bonito, que respeita e inclui as questões locais e foca na diminuição dos preconceitos, ampliando o olhar de todos sobre o respeito a todos”, comenta Patrícia Diaz, membro da comissão avaliadora do Prêmio IPL. Neste sentido, a biblioteca também procura desenvolver-se em relação a inclusão, lançando mão de atividades em LIBRAS (Linguagem Brasileira dos Sinais), além de contar com a proximidade com a FUNAI, o que lhe rende a inquietação contínua quanto a necessidade de preservação e compreensão das diversas culturas que compõe um povo. Não só seu acervo como também as atividades que procura desenvolver organizam-se ao redor de uma pedagogia emancipatória para seus frequentadores, na busca pela abolição de preconceitos e afirmação da pluralidade racial e da diversidade.