Entrevista com Bernadete Campello e Alexandre Schneider

O ex-Secretário Municipal de Educação de São Paulo, enquanto gestor público,  e a professora coordenadora do grupo de estudos em bibliotecas escolares da Universidade Federal de Minas Gerais e responsável pela pesquisa e publicação de parâmetros para bibliotecas escolares –  avaliam os resultados da Retratos da Leitura – Bibliotecas Escolares, realizada pelo Instituto Pró-Livro.   Qual a importância da pesquisa e o que ela nos diz? Bernadete – A elaboração da Retratos da Leitura em Bibliotecas Escolares coloca o Brasil alinhado com vários outros países que estão preocupados em mostrar o papel da biblioteca nas aprendizagens dos alunos. Isso é importantíssimo. Em linhas gerais, penso que os resultados do estudo indicam a necessidade de pessoas, de mediação, de cuidado e de atenção à formação do leitor. A pesquisa também aponta o dedo para onde está a ferida, pois sabemos que nossa distribuição de bibliotecas no Brasil é cruel. E se o espaço da biblioteca é ainda mais relevante para os alunos das escola mais vulneráveis e se ainda temos muitas escolas de Ensino Fundamental sem bibliotecas, não há mais desculpas para saber onde vão ser postos os investimentos. É nessa etapa de ensino em que as crianças estão mais propensas a se tornarem leitoras, desde que incentivadas. Schneider – A pesquisa nos ajuda a sermos mais racionais na discussão sobre bibliotecas escolares e salas de leitura. Os resultados nos dão pistas de como podemos trabalhar as políticas públicas para termos mais leitores e mais cidadãos. A questão do trabalho de integração de projetos pedagógicos, gestores e professores leitores é fundamental para que os alunos tenham experiências de leitura cada vez mais transformadoras. O que deve ser garantido? Bernadete – Se eu tivesse o segredo do cofre investiria em duas coisas: tecnologia e formação dos mediadores, que vão contribuir enormemente para a formação de leitores. A tecnologia não vai resolver o problema de organização da biblioteca, mas ela permite a conexão da escola com a família e com outras bibliotecas ou acervos. Nós temos os ingredientes, então acho que temos que investir nisso. Hoje eu tenho um olhar muito sensível para esses responsáveis pela biblioteca, que possuem um fazer que é difícil. Mas eu gostaria de ver uma pesquisa em que a gente também perguntasse para as crianças como as bibliotecas as ajudam. Aí nós teríamos respostas. Schneider – É importante pensar em projetos em que se promova a experiência de leitura , No caso das escolas, há um desafio a mais, que é deixar as crianças escolherem…. Deixá-las soltas para escolher o que querem ler. E isso tem que começar desde cedo. Outro grande desafio é colocar no PPP como os professores de todas as disciplinas vão fazer a ponte entre a literatura e a sua atividade. Esse movimento faz com que o livro seja parte de todo o processo de aprendizagem.