Entrevista com Patrícia Diaz sobre monitoramento e avaliação de projetos de leitura

Patrícia Diaz, diretora de Desenvolvimento Educacional da Comunidade Educativa (CEDAC), comenta de que forma a reflexão sobre a necessidade de monitorar e avaliar as ações dos projetos de leitura contribui o sucesso das iniciativas

Qual é a importância de fazer o monitoramento e a avaliação das ações realizadas nos projetos de leitura?

Monitoramento e avaliação garantem a quem propõe, financia, executa os projetos de leitura que seja visto se estão sendo alcançados resultados e, se não, que sejam identificados os pontos frágeis a serem fortalecidos/ corrigidos.

São muitas as variáveis que impactam na conquista de resultados em um projeto de leitura e se elas não tiverem mapeadas e não forem acompanhadas, é muito difícil que possam ser identificados os reais efeitos das ações que são realizadas nos projetos.

Quais as principais dificuldades que as organizações ou os projetos encontram para implementar a avaliação e o monitoramento? E como superá-los?

Fazer avaliação implica em um conhecimento específico que nem sempre existe na figura de quem executa os projetos de leitura. Em geral, são especialistas na formação de leitores e/ou na produção editorial e, se a instituição que lidera o projeto não contar com especialistas em avaliação, fica muito difícil construir um processo claro e bem sucedido para avaliar e monitorar as ações do projeto. 

O monitoramento e a avaliação precisam estar previstos no cronograma dos projetos, para que possam ser feitos durante todo o processo, e não apenas em alguns momentos. E isso também é difícil, pois exige um certo distanciamento de quem está executando as ações, o que nem sempre é possível de se conseguir.

Os indicadores da rede Leqt podem ajudar, pois ali já estão mapeados os principais indicadores para projetos de leitura, o que faz com que a instituição precise apenas adaptá-los ao seu projeto e, talvez, complementar com questões mais específicas relativas às ações que executa. 

 

Durante o encontro dos finalistas do Prêmio IPL, foi diagnosticada a dificuldade dos organizadores desses projetos em definir indicadores de avaliação. Quais, em sua opinião, seriam a principais causas dessa dificuldade ?

Uma das principais causas é a própria falta de definição do objetivo específico do projeto. A maioria se coloca um objetivo muito amplo, como “estimular a leitura”, “formar leitores”…mas não detalha tal objetivo para que seja possível saber exatamente o que significa “estimular a leitura”, qual o público que se quer atingir, com que intensidade, quer sair de que ponto para qual ponto. Enfim, não se tem, muitas vezes, clareza de qual o é problema exato a ser resolvido ou mitigado e nem exatamente onde se quer chegar e, assim, fica mesmo muito difícil de relacionar os indicadores que poderão ser utilizados para avaliar o avanço.

Quais dicas você daria para quem está enfrentando essas dificuldades ?

É preciso primeiramente definir e mapear bem o problema que se quer enfrentar. Se o projeto tem a intenção de, por exemplo, qualificar a leitura dos frequentadores de um espaço como uma biblioteca, por exemplo, é preciso pesquisar inicialmente quem, o que, quando leem. A partir daí, traçar um plano, definir onde se quer chegar, quais estratégias serão utilizadas e, assim, definir, então, quais são os possíveis “passos” que darão para alcançar o resultado.

Dessa forma, ficará mais possível pensar quais indicadores poderão “dizer” se estão avançando ou não e daí evoluir para quais instrumentos podem ser usados para essa verificação, com que frequência etc. 

Quais as principais orientações para a implantação de um sistema que seja eficaz?

Uma orientação importante é inserir o sistema de avaliação como parte integrante da realização do projeto, colocá-lo no cronograma de execução, destinar responsáveis etc. Pois um risco comum que se corre é envolver-se com as ações do projeto e esquecer-se do monitoramento e da avaliação, o que faz com que já não se cumpram seus objetivos, que são orientar as possíveis mudanças de rotas e acertos que os processos de monitoramento e avaliação indicam.

Como envolver todos os agentes na avaliação? É importante incluir no processo a autoavaliação?

É essencial que todos estejam envolvidos na avaliação. Desde o início! A construção de onde se quer chegar e um entendimento comum do porquê e como o projeto colabora para chegarmos a esse ponto é essencial para que todos possam contribuir tanto no desenvolvimento das ações em si como das informações necessárias para as evidências que indicam os avanços ou não no processo. A autoavaliação dos envolvidos, junto com uma avaliação mais “externa/ neutra”, é a equação perfeita para que a avaliação seja o mais fiel e coerente com os princípios, objetivos e formato do projeto. Todos tomam consciência da sua atuação e analisam mais sistemicamente o processo.

Como escolher ou selecionar indicadores? Qual a principal orientação para a seleção de indicadores que atendam à natureza/especificidades do projeto e que possibilitem avaliar/medir  se foram atingidos seus objetivos e metas?  

É importante ter clareza dos objetivos do projeto para que, então, sejam selecionados indicadores que correspondam a eles.  Também é importante selecionar indicadores que não estão tão diretamente ligados às ações realizadas, mas que podem dar pistas importantes sobre o impacto da ação ou de outros trabalhos adicionais que podem ser feitos para ampliar o resultado. Ao escolher os indicadores, também é comum acontecer uma revisão no próprio projeto, pois pode-se perceber que para se alcançar o resultado a ser monitorado por tal ou tal indicador é preciso reforçar uma ou mais ações para que isso ocorra. É saudável e desejável esse “vai e vem” entre ações e indicadores, até que se estabeleça um equilíbrio satisfatório para se realizar e acompanhar o projeto.

 

Nesse sentido, como deve ser o feedback e a comunicação sobre os resultados?

Há uma forma de feedback que deve ser dada aos participantes mais diretamente envolvidos no projeto, que precisa ser mais “formativa”, ou seja, deve contribuir para que sejam analisados, de forma coletiva e detalhada, avanços e pontos críticos. Assim será possível traçar coletivamente as correções de rota necessárias para continuar as ações de forma a buscar os melhores resultados. 

A outra forma de feedback é mais pública, como uma prestação de contas do que foi realizado, servindo também como mobilizador social para engajar mais participantes pela causa e até no projeto em si, se for o caso.

Onde buscar mais  informações sobre o assunto (referência bibliográfica ou publicação, link, site)?

Recomendo artigos e casos expostos nos sites http://move.social e http://pacto.site/casos/.