Indicadores LEQT – entrevista como Ana Lúcia Lima e Fernanda Cury

A Rede Leitura e Escrita de Qualidade para Todos (LEQT) criou um conjunto de indicadores para ser utilizado como parâmetro avaliativo ou de monitoramento em projetos do campo da leitura realizados em escolas, bibliotecas públicas e privadas e em outras ações comunitárias, considerando-se cinco dimensões distintas: política, infraestrutura, formação de profissionais, práticas de promoção da leitura e mudanças. Esses indicadores serão abrigados e disponibilizados aqui na Plataforma Pró-Livro.

Em entrevista, Ana Lúcia Lima, membro do grupo coordenador da Rede LEQT e Fernanda Cury, consultora, contam sobre a atuação em rede da LEQT, explicam como o instrumento de avaliação funciona e como ele pode ajudar organizadores de projetos de leitura a refletirem sobre suas próprias iniciativas e resultados e a estabelecerem metas para as dimensões avaliadas nos Indicadores. Vejam o que elas disseram:

A Rede LEQT conseguiu reunir as mais importantes organizações sociais (OSCs) que atuam na área da leitura e escrita no Brasil, além de especialistas da área do setor público, acadêmico e da cadeia produtiva do livro. A que você atribui o interesse dessas organizações em atuar em rede? O que foi possível construir e qual o grande desafio para atuar em rede?

Ana Lima – A rede LEQT já tem uma trajetória longa como rede. Ela nasceu a partir de uma visão comum, de uma paixão comum, que essas organizações envolvidas têm pela leitura. Talvez no começo um pouco mais focada na leitura literária mesmo, pelo prazer de ler, pela qualidade da leitura.

Ao longo do tempo, ela veio se diversificando em termos de perfil, para abrigar um pouco também quem atua na promoção de leitura com uma finalidade mais pro lado da educação, da cidadania, da emancipação do cidadão no sentido de compreender o mundo que o cerca. Inclusive acabamos de fazer um mapeamento da própria Rede, para entender onde estão as potências e os desafios dessa diversidade e o que precisa ser fortalecido para que todos produzam juntos. Foi um momento muito interessante para nos enxergarmos e entendermos o que nos estimula e o que vai fortalecer essa rede nos próximos anos. 

Como essa diversidade influenciou a elaboração dos Indicadores LEQT?

Ana Lima – Nesse sentido, abrigando a diversidade, mas querendo fortalecer a posição da leitura como uma estratégia, como uma força em si, é que a gente teve a inspiração de construir esses indicadores. 

O projeto foi bem desafiador, pois é muito fácil criar meia dúzia de indicadores, engessantes sem respeitar nem a cultura nem o que mobiliza cada ator a estar nessa rede. E nós apostamos justamente na riqueza dessa diversidade, dentro de uma estrutura, de uma lógica e de uma filosofia comuns.

Então os indicadores tinham que ser capazes de funcionar para um pequeno projeto e, ao mesmo tempo, para um projeto que é apoiado por uma grande organização e que tem recursos financeiros importantes, que faz doação de livro para crianças, por exemplo.

Como foi a opção pela construção dos INDICADORES – foi uma reivindicação da rede para atender à quais necessidades?

Fernanda – A coordenação da Rede LEQT sabe da importância do monitoramento e da avaliação de projetos sociais, incluindo aqueles voltados ao tema da leitura, não só com o objetivo de obter dados sobre os projetos, mas também de obter subsídios para a melhoria desses projetos.

A LEQT percebeu também que muitas organizações, incluindo alguns membros da Rede, não possuíam ferramentas para realizar esses processos. Além disso, sabe-se que tais procedimentos podem demandar muitos recursos, que nem todas as organizações possuem, além de ser necessário ter uma cultura de avaliação instituída.

Nesse contexto, a coordenação da Rede, em parceria com seus membros, resolveu subsidiar a criação de indicadores que poderiam atender diversos projetos e organizações.

Qual a importância de oferecer parâmetros comuns, mas que podem ser customizados segundo a natureza e objetivos de cada ação, para o monitoramento dos diferentes projetos que as instituições realizam com foco na formação de leitores?

Fernanda – Percebeu-se que o oferecimento de parâmetros que podem ser customizáveis possibilita o acesso e desenvolvimento facilitados de instrumentos de monitoramento e avaliação a organizações com diferentes atuações sem que, contudo, essas organizações percam as particularidades de suas ações. 

Qual foi o principal desafio para a construção colaborativa desse instrumento de avaliação a partir das experiências e necessidades das instituições participantes da rede, e, qual o principal diferencial e/ou o que possibilita esse conjunto de indicadores construído em parceria, se for adotado por várias instituições?

Fernanda – O principal desafio para a construção dos indicadores de avaliação para projetos na área do livro e leitura foi conseguir atender a grande gama de possibilidades de projetos que podem estar voltados a diferentes esferas de atuação em diferentes dimensões. Assim, buscou-se oferecer possibilidades para aquelas organizações que desenvolvem ações dentro de 3 esferas (escolar, bibliotecas públicas e bibliotecas e ações comunitárias) e 6 dimensões (política, estrutura, formação de profissionais, práticas de promoção de leitura, mudanças e eventos de leitura) no sentido de conseguir, da forma mais ampla possível, obter informações dentro dessas áreas para fornecer subsídios de melhorias dos projetos em diversos âmbitos.

Nessa perspectiva, o principal diferencial seria justamente essa amplitude de possibilidades que oferecem um olhar amplo sobre a ação que está sendo monitorada ou avaliada. 

Implantar sistemas de monitoramento/ avaliação de projetos é um grande desafio pois exige recursos e pessoal qualificado para o desenvolvimento do processo e do instrumento para a avaliação. Qual a contribuição da rede LEQT ao disponibilizar os INDICADORES e orientar sua customização e sua aplicação?

Fernanda – A maior contribuição desejada é justamente oferecer a possibilidade de monitoramento e avaliação de projetos tanto para as organizações que tenham acesso a recursos e pessoal qualificado quanto para aquelas que não tenham, de forma a facilitar esse processo de avaliação e de melhoria dos projetos.

Qual foi o principal desafio no desenvolvimento desse sistema online?

Fernanda – O principal desafio foi o de conseguir oferecer uma ampla possibilidade de indicadores para a construção de instrumentos que possam atender projetos com diferentes focos tanto de atuação quanto de ação propriamente dita.

Qual a principal preocupação ou recomendação para seu uso pelos projetos?

Fernanda – A principal preocupação é desenvolver nas organizações a cultura de avaliação, já que esta não é tão enraizada ainda na nossa sociedade. Nesse sentido, a recomendação é para que as organizações se sintam estimuladas a usar a plataforma que tem por objetivo, além de oferecer a possibilidade prática de elaborar os instrumentos e apresentar resultados, também a de mostrar que a avaliação pode ampliar os horizontes dos projetos e de suas atuações.

Qual a expectativa em relação à parceria com o IPL ao disponibilizar os indicadores LEQT na Plataforma Pró-Livro?

Ana Lima – Exatamente pelos indicadores serem flexíveis e moldáveis para diferentes demandas, eles precisavam de uma plataforma que permitisse aos usuários construir suas próprias versões do documento. Na Plataforma Pró-Livro, os organizadores dos projetos podem selecionar de um grande menu de indicadores aqueles que são relevantes para eles de uma maneira bem didática.

E nada mais natural do que usar uma plataforma que já está nesse campo, que já congrega um grande número de projetos espalhados pelo Brasil e que já é membro da Rede LEQT há muitos anos. 

No futuro, quando tivermos uma quantidade grande de projetos usando os indicadores, vamos conseguir dizer o que está de fato sendo feito pela leitura e para a leitura por esses atores todos, em seu conjunto.  

E qual a principal vantagem no uso dessa ferramenta?

Fernanda – A principal vantagem do uso da ferramenta é a de facilitar a construção de instrumentos de monitoramento e avaliação de projetos voltados à área do livro e da leitura e, a partir do oferecimentos dos resultados provenientes desses instrumentos, de proporcionar o desenvolvimento de projetos mais estruturados e embasados nas realidades a que se propõem atender, buscando tornar a avaliação um processo comum e acessível a mais organizações.

Deixem seus convites finais para que os organizadores de projetos de leitura conheçam os Indicadores LEQT.

Ana Lima – O primeiro convite é para que os organizadores dos projetos parem, olhem, pensem e dialoguem sobre os indicadores dentro das próprias iniciativas. Mesmo que eles não queiram avançar no processo virtual e preenchê-lo na plataforma.

É importante que isso seja feito no coletivo, com a equipe, envolvendo os beneficiários, trazendo as pessoas para discutir os pontos mais importantes, de acordo com o que elas pensam, será que é a estrutura, a mudança no acervo?

Depois de todo esse movimento, é impossível que as pessoas envolvidas não tenham vontade de medir para descobrir onde o projeto está, mesmo que não contem para ninguém. Mas se elas olharam e mediram, é recomendável que compartilhem as descobertas porque, ao fazer isso, estarão convidando os outros para uma reflexão coletiva.

E eu acho que quando se tem clareza das fortalezas, para poder exibi-las, e conhecimento das fragilidades, para focar nelas e melhorá-las, isso facilita muito o diálogo de articulação de parcerias em torno dos projetos.