Como os brasileiros percebem e avaliam as bibliotecas?

No dia 29 de setembro, o Instituto Pró-Livro e o Itaú Cultural realizaram a segunda edição do “Ciclo de Debates: o que nos diz a 5ª edição da Retratos da Leitura no Brasil”. O encontro contou com as participações de Maria das Graças Monteiro Castro, professora doutora do curso de biblioteconomia da Universidade Federal de Goiás (UFG) e presidente da Comissão Brasileira de Bibliotecas Escolares (FEBAB) e de Bel Santos Mayer, gestora da rede LiteraSampa e professora da pós-graduação do Instituto Vera Cruz. 

Zoara Failla, coordenadora da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, mediou o encontro e apresentou alguns dados que fomentaram as discussões realizadas no evento. O tema do segundo encontro do ciclo foi “Retratos da Leitura em Bibliotecas – percepções e avaliação”. No evento, as convidadas cruzaram dados de um levantamento feito pelo IPL em 2019, sobre o impacto das bibliotecas escolares nas aprendizagens dos alunos, e da nova edição da Retratos da Leitura.   

Segundo a pesquisa Retratos da Leitura 2019, cerca de 34 milhões de pessoas frequentam bibliotecas no País, sendo a maioria pertencente à classe C (49%), seguida da B, com 26% e D/E, com 21%. Os estudantes são 60% dos frequentadores. A principal motivação para ir à biblioteca é ler livros para pesquisar ou estudar(51%) e, em seguida, ler por prazer (33%).

De modo geral, os frequentadores consideram que as bibliotecas têm bom atendimento (96%), apesar de apenas 57% declararem que encontram todos os livros que procuram. Entre aqueles que não frequentam bibliotecas, 34% alegam falta de tempo e 20% dizem não gostar de ler. Vale destacar que 13% deles mencionaram não haver biblioteca próxima para frequentar.

Já os resultados da Retratos da Leitura em Bibliotecas Escolares indicam que há sim uma relação positiva entre exigência de bibliotecas escolares ou salas de leitura e o desempenho escolar em Português e Matemática no 5º ano do ensino fundamental e ela é mais potente quanto mais vulnerável a condição socioeconômica do aluno.

Mas como será que essas informações podem orientar políticas e ações voltadas a ampliar o acesso e orientar a construção de espaços vivos e que promovem: encontros, investigação, conhecimento, aprendizagem e formação de leitores e cidadãos?

Em sua apresentação, Maria das Graças Monteiro Castro chamou atenção para a necessidade de significar a biblioteca como espaço de leitura e formação de diferentes leituras textuais, para diferentes níveis de ensino. “A biblioteca tem que qualificar a informação que circula no ambiente escolar e garantir o acesso das diferentes estruturas necessárias para que esse leitor se forme”, afirma Graça. “O fluxo de informação vai alimentar as demandas das bibliotecas, as possibilidades pedagógicas devem ser definidas num planejamento conjunto. Nós temos que entender a bibliotecas como um espaço com vários eixos, dentre eles o espaço físico e o acervo, que deve ser formado em consonância com as necessidades das unidades de ensino”. 

Graça chama atenção para o fato de que a maioria dos leitores entrevistados pela pesquisa veem na biblioteca um lugar para estudar. “Isso nos mostra que esse espaço está ligado à tarefa, trabalho. No entanto, ele precisa ser também um lugar para a leitura livre e autônoma, de indicação de textos literários feitas por um mediador que seja leitor”.

Bel Santos Mayer foi provocada por Zoara a responder sobre a importância das redes e das bibliotecas comunitárias em tempos difíceis como o que estamos vivendo. E começou a sua fala comemorando o fato de que 13% dos entrevistados afirmam frequentar bibliotecas comunitárias. “Elas nascem da iniciativa de indivíduos, de coletivos que negligenciados, abandonados, de uma cultura, decidem, nós vamos ler. Nós vamos nos juntar e continuar lendo. Então ver que 14% veem um esforço nosso enquanto comunidade é um dado também importante”, afirma. 

Bel comentou que uma biblioteca precisa formar para o acesso a outras bibliotecas. “Quem teve livro em casa desde a infância nunca imaginou que teria dentro de casa tudo o que gostaria de ler. A família prepara para o acesso à biblioteca da escola, uma biblioteca pública. Nós nas bibliotecas comunitárias trabalhamos até em um caminho contrário, que é o de os leitores terem as bibliotecas pessoais, as bibliotecas da família”diz.

Logo em seguida, Bel tratou de alguns equívocos que podem contribuir para o fato de as crianças deixarem de ler quando chegam ao Fundamental 2 e ao Ensino Médio, conforme indica a Retratos da Leitura do Brasil. “O primeiro é achar que mediação de leitura só se faz na infância e que depois que a criança já sabe ler, não é mais preciso ninguém mais ler pra ela”, afirma Bel. “Um outro equívoco é circunscrever a leitura a alguns períodos: para fazer a prova, porque o professor pediu. Nós só vamos criar leitores se eles forem expostos aos livros o tempo todo”.