Bíblia e livros religiosos

  * Por Paulo Vicente Ruiz de Las Heras Moregola

A 5ª edição da Retratos da Leitura destaca a Bíblia e os livros religiosos como preferência ou indicação de última leitura em todas as análises apresentadas. Seja por faixa etária, por escolaridade, por comparação entre o público estudante ou não; a Bíblia é destacada sempre como 1ª citação e os livros religiosos logo em seguida sendo superados apenas pelo gênero “Contos”.

Algumas reflexões sobre o motivo de tal cenário tentam ressaltar a ligação afetiva, pois sendo o Brasil um país marcadamente cristão, a Bíblia é introduzida no universo literário das famílias desde muito cedo.

Porém, precisamos entender algumas outras questões que podem ampliar o horizonte de análise sobre a predominância do texto religioso entre a população leitora no Brasil.

  • A leitura da Bíblia remete a uma realidade afetiva e efetiva entre o leitor e o carisma religioso que o mesmo professa:
    • Livro de oração diária: a Bíblia é referência para reflexões diárias entre os diferentes carismas do cristianismo (católicos, protestantes, ortodoxos, entre outros) e, no caso do Antigo Testamento, também no judaísmo.
    • Livro litúrgico: seja na missa católica ou ortodoxa, culto evangélico ou nas sinagogas, o texto bíblico é utilizado na condução das celebrações.
    • A Bíblia e os livros religiosos são referências bibliográficas citadas e efetivamente utilizadas para a condução de grupos de estudos, orações e/ou etapas formativas entre as crianças, os jovens, os casais e as famílias em geral.
  • Não podemos perder de vista também a ligação afetiva:
    • Pelas características culturais do povo brasileiro, o texto bíblico é apresentado pelas famílias desde muito cedo. E em todas as classes sociais. São inúmeras as histórias de grupos sociais que não possuem letramento e não completaram a educação formal, mas que possuem o hábito ou por indução familiar ou por participação em grupos e instituições religiosas de ler diariamente a Bíblia.
    • Há relatos de experiências de alfabetização que boa parte dos alunos passam pelo processo de aprendizagem com o único objetivo de conseguirem ler a Bíblia.

São algumas reflexões que podem colocar um pouco de luz para compreendermos os motivos que colocam a Bíblia e os livros religiosos como a leitura mais citada entre os brasileiros, independente da classe social, faixa etária e grau de escolaridade.

*Paulo Vicente Ruiz de Las Heras Moregola é membro da diretoria da Câmara Brasileira do Livro; membro da diretoria do Instituto Pró-livro e diretor comercial e marketing – Edições Loyola