O perfil, as leituras e as motivações dos leitores de literatura e dos consumidores de livros

No dia 6 de outubro, o Instituto Pró-Livro e o Itaú Cultural realizaram a terceira edição do “Ciclo de Debates: o que nos diz a 5ª edição da Retratos da Leitura no Brasil”. O encontro contou com as participações dos convidados João Luís Ceccantini, professor de Literatura Brasileira da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) e Mariana Bueno, consultora Nielsen Book, especializada em economia do livro. Mariana também fez parte da comissão da Retratos da Leitura no Brasil. 

Zoara Failla, coordenadora da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, mediou o encontro e apresentou alguns dados que fomentaram as discussões realizadas no evento, cujo tema foi “o perfil, as leituras e as motivações dos leitores de literatura e dos consumidores de livros”. 

De acordo com o levantamento do IPL, o brasileiro leu 1,05 livro por inteiro, contra 1,06 em 2015, enquanto os livros lidos em parte foram em média 1,55 em 2019 contra 1,47 em 2015. Nos três meses anteriores à coleta de dados, 52 milhões de pessoas compraram algum livro, em papel ou em formato digital. Dos que costumam comprar livros, 35% utilizam livrarias físicas, 14%compram em bancas de jornal e revista, 12% fazem aquisições online e 9%procuram sebos, entre outras alternativas.

Especificamente sobre o gênero literatura, foram obtidos alguns resultados relevantes. Observa-se que o professor é o maior responsável por incentivar o interesse dos alunos (52%), porém os filmes baseados em livros também foram um fator de interesse (48%), assim como a indicação de amigos (41%) e a identificação com o autor (35%). Os leitores de literatura leram mais livros deste gênero por vontade própria (2,89livros em 3 meses) e por inteiro (2,28 livros no período) do que os leitores de livros em geral.

Leitores de literatura – quem são e o que leem segundo a Retratos da Leitura? Os desafios para formar e conquistar esses leitores

A partir dos dados da Retratos da Leitura no Brasil, Ceccantini analisou quem são os leitores de literatura, o que leem segundo o levantamento e quais seriam formas de conquistar esses leitores. 

No universo geral dos sujeitos pesquisados, em que 52% dos respondentes são inseridos na categoria leitor, 28% declararam ser leitores de livros de literatura e 30% informaram que são leitores de literatura apenas em outros meios. “Tomada como base a população brasileira em 2019 com 5 anos ou mais – 193 milhões de pessoas –, é, portanto, substantivo o número de leitores que se dedicam à leitura da literatura”, afirma Ceccantini. 

O professor observou também que há mais pessoas jovens, com 5 a 29 anos, entre leitores de livros de literatura do que entre outros tipos de leitores e que há um contínuo decréscimo dos leitores de livros de literatura que prossegue até a faixa dos 70 anos ou mais.  “Trata-se de uma questão que merece ser estudada com o devido cuidado, investigando-se sobretudo se não estaria atrelada a práticas escolares cristalizadas e superadas na abordagem do fenômeno literário, incapazes de formar leitores permanentes”, diz. “Na comparação com as pesquisas anteriores, fica nítido em diversas frentes, que a influência da escola no campo da leitura tem diminuído, e especialmente no que diz respeito ao livro de literatura, ao longo de todo o período de escolarização dos indivíduos e de maneira ainda mais acentuada no Ensino Superior”.

De acordo com o professor da Unesp, chama atenção na pesquisa o fato de os leitores de livros compartilharem significativamente mais impressões de leitura sobre uma dada obra lida do que aqueles que leem literatura apenas em outros meios. “Também são os leitores de literatura os que mais realizam o empréstimo de livros junto a bibliotecas, assim como junto à família ou aos amigos. E, talvez por isso, comprem menos livros do que os demais leitores, como se depreende das informações colhidas”, comenta.

As motivações dos leitores de literatura e dos consumidores de livro segundo a Retratos da Leitura

Após a fala de Ceccantini foi a vez de Mariana Bueno, consultora Nielsen Book, especializada em economia do livro comentar as motivações dos leitores de literatura e dos consumidores de livro segundo a Retratos da Leitura. Será que elas podem orientar políticas e programas para ampliar o número de leitores?

Mariana iniciou sua apresentação comentando dados preocupantes do setor livreiro, que 29% nos últimos anos e questionando os motivos pelos quais isso possa estar acontecendo “Por que esse mercado não consegue manter o faturamento? No mundo inteiro o livro tem abaixado de preço e o aumento do uso da internet faz as pessoas dividirem o seu tempo de maneira diferente”, diz.

Em seguida, usou a metáfora do copo meio cheio para ilustrar dados da pesquisa referentes aos leitores de literatura, que apresentam melhores resultados em todos os indicadores analisados. “Esse leitor lê em média 5 livros por ano, lê por gosto e para buscar crescimento pessoal, escolhe as obras por indicação, pelo título e pela capa, lê contos, livros religiosos e romances”, afirma. “O principal lugar de compra são as livrarias, o preço é fator determinante para 22% dos entrevistados. E 27 milhões da classe C e D são compradores de livros”.   

De acordo com Mariana, o copo meio vazio mostra uma demanda reprimida. “Dentre os principais motivos para não ler, segundo a Retratos, 41% dos respondentes declaram dificuldades, outros tantos dizem não gostar de ler. Outras razões importantes são falta de tempo, de paciência e de concentração”, afirma. “As respostas sobre as dificuldades de ler na Retratos tem ligação forte com os números do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf). Quando a gente olha pro Pisa, o Brasil ficou em 58 em um ranking de 77 países, ou seja, nós não fomos capazes de formar uma população leitora ao longo do tempo”. 

Mariana também ressaltou a importância dos dados da Retratos para uma possível orientação de políticas públicas e do próprio setor livreiro para o atendimento da demanda reprimida de milhões de brasileiros que ainda não leem. “Se a gente pensar que o Estado também compra livros, vale pensar que essas compras não são suficientes para criar uma população leitora. É preciso de política pública de incentivo à leitura. E é importante porque estamos falando de expansão de demanda, do ponto de vista do setor. Do ponto de vista de Estado, é importante para o desenvolvimento do país”, conclui.