Seminário Retratos da Leitura no Brasil 6

O Instituto Pró-Livro realizou, no dia 9 de dezembro de 2025, no Itaú Cultural, o Seminário Retratos da Leitura no Brasil.

O encontro reuniu especialistas com a proposta de identificarem porque não estamos conseguindo melhorar o retrato da leitura no Brasil e para apresentarem caminhos para superarmos esse retrocesso.

Na abertura, Sevani Matos, vice-presidente do IPL e presidente da CBL, representando o presidente do IPL, Angelo Xavier, e as entidades mantenedoras do IPL – Abrelivros, CBL e Snel – agradeceu a todos os especialistas, a coordenadora da pesquisa, apoiadores e patrocinadores da pesquisa e do seminário, graças a Lei Rouanet, pelo Itaú Unibanco e o patrocínio pela Fundação Itaú. Destacou a importância da pesquisa para orientar políticas públicas e as ações da sociedade civil e da cadeia produtiva, voltadas à promoção da leitura, essenciais para transformar o Brasil em um país de mais leitores. Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, agradeceu a todos os parceiros e a quem está na mesma jornada na defesa do livro e da leitura e destacou a importância da parceria com o IPL, que iniciou a dez anos, com a quinta edição da pesquisa. Apresentou as ações da Fundação voltadas a fomentar o encontro entre cultura e a educação, tendo o livro e a literatura como o principal elo do encontro. 

Os debates, iniciaram após a Coordenadora da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, Zoara Failla, destacar a principal inquietação despertada pela pesquisa com a revelação de que estamos perdendo cerca de 1.5 milhões de leitores por ano. 

Segundo ela, os desafios que se mantêm para formar leitores e despertar o gosto pela leitura, se somam às profundas transformações trazidas pela tecnologia e pela atração pelas telas, que afastam leitores dos livros: 

São muitos os desafios para formar leitores, e não são novos, mas agora eles se somam a urgente necessidade de descobrir como conquistar ou reconquistar uma geração entorpecida pelas telas e pelas manipulações midiáticas. Jovens que ainda não descobriram o poder da leitura e a magia da literatura (mais de 90% dos jovens usam o tempo livre na internet e 43% das crianças nos vídeos games. Somente 20% leem livros). 

Zoara fez uma releitura dos resultados que mais impactaram e que foram propostos para serem analisados pelos debatedores convidados para o encontro; e, esclareceu que a pesquisa Retratos não investigou somente a leitura em livros – impresso e digital -em 3 meses (investiga em doze meses e último livro lido);  e,  também, hábitos e perfil dos leitores em outros materiais e suportes e o acesso em diferentes meios e plataformas, inclusive investiga a leitura de literatura fora dos livros (em aplicativos de mensagens, blogs, revistas, redes sociais etc)

Frente à esperança de alguns, de que qualquer leitura e em qualquer meio pode formar leitores críticos, lembrou a tese defendida por neurocientistas sobre a importância da leitura de livros impressos, como antídoto aos prejuízos cognitivos, emocionais e de convivência causados pelo vício nas telas. Destacou o risco de manter metade da população não leitora de livros, mas que leem mensagens em seus celulares, onde Fake News alimentam as representações sobre nossa realidade

Esse Brasil “que não lê” –   pode desenhar o futuro do país.

Para concluir, convidou a todos e todas para se juntarem na defesa ao direito à leitura profunda, silenciosa e reflexiva – que descortina a realidade e que desperta nossa consciência social; e, de garantir que crianças e jovens descubram o gosto pela literatura 

Na sequência, o tema “quem forma o leitor hoje” inspirou a conversa entre Ana Erthal, Ana Erthal, Eduardo Saron, Luiz Fernando Martins de Lima, mediada por Tatiany Leite – para falarem sobre a influência de mediadores, de influenciadores digitais e sobre o impacto da IA na formação humana. Foi ressaltado que a aproximação com a leitura não acontece de forma espontânea: ela depende de estímulo, convivência, repertório e, sobretudo, de mediação para o despertar do gosto pelos livros e histórias, e, como, hoje, essa aproximação, mediada pela tecnologia e pelas máquinas (IA) pode levar ao abandono dos livros.  Ana pergunta se influenciadores formam leitores ou consumidores de conteúdo ou de livros. Em suas pesquisas com jovens, descobre que resenhas produzidas por influenciadores abastecem os interesses de seguidores que compartilham suas “leituras” em grupos de leitores. Luiz destaca que a série histórica da Retratos revela a queda na identificação de um mediador e uma ampliação do “ninguém influenciou”. Também aponta a citação da influência dos filmes pelos leitores de literatura e como os editores captam esse interesse ao substituírem ilustrações por atores dos filmes na capa de livros.  Saron fala sobre a IA e as profundas transformações no comando de nossas vidas, “para o bem e para o mal”. Cita avanços nas pesquisas e diagnósticos na área da saúde, como uma possível revolução. Mas, defende que as escolas devem ser ressignificadas para dar conta das transformações e garantir a formação de valores humanos, o desenvolvimento da inteligência humana, a construção autônoma do conhecimento e da consciência sobre a realidade, por meio da aproximação com os livros e do acolhimento. 

Em “A formação de leitores e o despertar do gosto pela leitura – desafios e trajetórias para família e escolas – Idmea Semeghini-Siqueira, Teresa Cristina Aliperti e Eliana Yunes,  com mediação de Maria Mortatti – construíram suas reflexões tendo a escola e a família como pilares fundamentais para despertar o interesse pela leitura, construir vínculos afetivos com os livros e formar leitores críticos.  Idmea defende a importância das creches, que devem ser espaços multilinguagem e lúdicos, para garantir o despertar do gosto pela leitura na primeira infância, frente às dificuldades das famílias em assumirem esse despertar.  Tereza apresentou os resultados da sua experiência diária no despertar do gosto dos seus alunos pelos livros, como professora do Fundamental I, em escolas públicas de SP, valorizando e envolvendo as famílias (em reuniões de pais e mestres) nas práticas leitoras com os alunos. 

Eliana destaca a capacidade de ler o mundo como forma de comunicação e construção de conhecimento e a importância de formar leitores e escritores em múltiplas linguagens e repertórios culturais na formação de cidadãos e leitores críticos da realidade e fala sobre a urgência na formação de professores leitores de literatura e mediadores para essa transformação. 

 Já em “Ressignificando as Bibliotecas Públicas e Escolares”. Bibliotecas Comunitárias e as leituras em todos os territórios” – debateram: Jorge Moisés Kroll do Prado; Bel Santos Mayer e Márcia Cavalcante, com a mediação de Dolores Prades 

Jorge avalia a pouca frequência e representações que os brasileiros têm das bibliotecas e propõe a ressignificação desses espaços para acolherem a comunidade, apresenta levantamento sobre o currículo de formação dos bibliotecários e defende incluir literatura e mediação na formação de bibliotecários. Bel destaca a importância das bibliotecas comunitárias como elo de transformação de vidas pela leitura, defende que as bibliotecas sejam espaços de diálogo, de reflexão, construção de conhecimentos e empoderamento das comunidades locais. Marcia Cavalcanti apresenta sua experiência em territórios populares para a mobilização e a escuta e defende a importância das políticas públicas para garantir a efetividade das ações 

Em “O PNLL – desafios e a gestação de um novo RETRATO” – debateram :Fabiano Piúba, Jefferson Assunção; Anita Gea, com mediação: José Castilho Marques Neto –

Castilho inicia destacando o risco para o país frente a hemorragia de leitores revelada pela Retratos e faz uma leitura sobre a atual conjuntura política para destacar a urgência de ações e das políticas públicas e o desafio para garantir a efetividade do novo PNLL. Resgata o histórico do PNLL e em qual contexto o primeiro Plano foi proposto, que, apesar da descontinuidade, garantiu sua resistência. Jefferson resgata a ausência de uma cultura de leitura na história, por séculos, para explicar as representações sobre a importância do livro e da leitura. Destaca a importância da parceria do MINC e MEC nessa reconstrução, e das ações que já estão sendo implementadas em  Bibliotecas Comunitárias, instalação de biblioteca nos programas Minha Casa Minha Vida a reedição do Vivaleitura e , segundo sua “leitura” defende a necessidade de avaliar as transformações nas  leituras em outros suportes e materiais    e como podem impactar o retrato da leitura no Brasil. Anitta apresenta as ações do MEC e  a importância e as dificuldades do PNLD  para garantir os livros nas escolas  e para as bibliotecas  , destacando cortes em recursos,   dado que não são obrigatórios e sofreram cortes por conta de emendas parlamentares. Destaca a importância de a sociedade defender que esses recursos seja obrigatório. Fala sobre propostas do MEC para a formação de professores e de bibliotecários. Fabiano inicia falando que a Retratos deveria incluir outras leituras além da leitura de livros em 3 meses (isso já acontece na pesquisa, como foi esclarecido pela Coordenadora). Concorda com a fala do Castilho sobre a urgência de estancar a hemorragia, lembrando que é preciso muito tempo para melhorar esse “retrato”. Lembra que a desconstrução dos ministérios da Educação e Cultura no governo anterior, explica vários retrocessos e torna urgente grande empenho para ser superado; e, destaca iniciativas estratégicas realizadas em parceria entre MINC e MEC que articulam as políticas da cultura e educação. Chama a sociedade para que se mobilize para o investimento e a implantação das políticas em estados e municípios.

Nesse contexto, ficou claro que a descontinuidade de políticas públicas e de investimentos revelou um dos principais obstáculos para desenhar o cenário atual.

O encontro reforçou que os resultados da pesquisa não são apenas um diagnóstico: são um chamado para ação. Os dados trazem pistas valiosas para orientar políticas públicas, programas de incentivo, ações de bibliotecas, iniciativas da sociedade civil e estratégias do setor do livro. Reverter a queda da leitura no país exige esforço conjunto, continuidade, investimento e um compromisso permanente com o direito ao livro e à formação leitora.
O Instituto Pró-Livro reafirma sua missão de promover conhecimento, articular setores e estimular o debate público sobre a leitura no Brasil.