Os impactos da leitura de livros em plataformas digitais no Brasil

Durante ciclo de debates sobre os resultados da pesquisa Retratos de Leitura no Brasil, Fabio Malini, doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ e professor da UFES, propôs uma reflexão sobre os impactos da leitura de livros em plataformas digitais no Brasil. A partir dos dados da Retratos da Leitura, Malini identificou nove tendências sobre o comportamento leitor brasileiro em outros suportes que não o livro físico. Conheça cada uma delas.

1 Assuntos dos momentos na internet tenderão ser os temas que motivam a compra de livros

O impacto mais intenso do digitalismo que a pesquisa revela não está associada ao acento individual dos influencers, mas incide sobre dois itens bem relevantes na influência da escolha de um livro entre leitores: “tema ou assunto” (33%) e “dicas de outras pessoas” (12%).

Segundo a pesquisa, 66% do total da amostra preferem usar a internet no seu tempo de entretenimento, um aumento substantivo comparada ao percentual (47%) respondido em 2015. O percentual aumenta mais se analisado apenas os leitores de livro: 75%.

2 A mudança do público-leitor para o amigo- seguidor: o leitor plataformizado. 

A imersão na vida digital, sobretudo entre os 32% que priorizam a compra livros exclusivamente em livrarias online, está mais correlacionada com a compra do livro em função do autor. 

3 A narrativização do social determina o interesse da leitura: a elasticidade do espaço público de opinião na internet

Antes restrita às camadas médias e altas da população, a internet se massificou e, em 2019, 89% das pessoas usam a internet diariamente, de acordo com a TIC Domicílios 2018, que passou a abrigar as populações mais empobrecidas (em 2015, 21% da classe D usava a internet nas horas vagas; em 2019, 45%) e de escolaridade mais baixa (em 2019, 42% de quem tem apenas o ensino fundamental). 

Assim não é de surpreender que a pesquisa mostre que 75% dos leitores de livros têm na internet sua principal atividade de lazer. Ou que passatempos, tais como “usar whatsapp” (68%) e acessar “Facebook, Twitter ou Instagram” (50%), estejam ainda mais intensamente na realidade desses leitores.

4 A proximidade física não pertence apenas ao mundo offline, ela é incorporada nas plataformas digitais

São os professores (22%), Amigos (22%) e Mães ou responsáveis do sexo feminino (6%) que pesam na decisão de leitura, portanto, na mediação de um influenciador mais próximo ao leitor. Apenas 3% dos leitores obtêm indicação no Youtube, Instagram ou Facebook. 

5 Na internet, ler notícias é um hábito mais presente na vida adulta

Já ler livros em ambientes virtuais, na vida infantojuvenil.

“Ler notícias, jornais e revistas” é uma atividade cotidiana de 23% dos que usam a internet. Ler notícias na internet é um hábito mais ligados à população adulta. Se contrastarmos os extremos dos mundos adulto e jovem, veremos que o grupo etário de 50 a 59 anos (32%) lê notícias duas vezes mais que o de 18 a 24 anos (16%).

Já ler livros em ambientes da internet é um hábito mais infanto-juvenil (13% entre quem tem de 11 a 17 anos), mais do que o dobro em relação a outras faixas etárias, como por exemplo 18 a 24 anos (6%) e 50 a 69 anos (4%).

É a troca de mensagens o principal espaço interativo da leitura e da escrita online: 67% dos entrevistados Não- leitores mencionaram a troca de mensagens via WhatsApp ou chat do Facebook como uma das atividades mais realizada na internet. Já entre leitores esse mesmo item soma 55% das respostas. 

6 O local da leitura do livro digital: espaços de passagem

O local preferencial da leitura feita através do livro digital continua, na comparação entre 2015 e 2019, sendo os espaços de passagem, como cafeteria (16%), em meios de transporte público (17%), trabalho (15%) e consultórios, salões de beleza ou barbearia (13%), totalizando 61%.

7 Leitores buscam mais conhecimentos aprofundados na internet 

81% dos leitores usam a internet para aprofundar um conhecimento particular. E 64% para estudar e fazer trabalhos escolares (praticamente o dobro em comparação com o valor de 34%, entre os não-leitores).

Mais da metade (53%) leem livros na tela de dispositivos computacionais e 64% tem o hábito de baixar livros, enquanto apenas 17% e 9%, respectivamente, entre não-leitores. 

Entre aqueles com ensino superior, 92% leem notícias e informações; e 89% aprofundam conhecimentos sobre os seus temas de interesse na internet. Essa mesma atividade é foco de 54% e 60% entre os que possuem apenas o ensino fundamental de 1a a 4a séries.

8 O suporte preferencial da leitura digital é o telefone celular 

Em 2015, eram cerca de 26% o número de pessoas que tiveram contato com a leitura de um livro digital. Em 2019, 37%.

Em 2015, 56% dos que já tinham lido um livro digital, havia lido um livro através de celular. Em 2019, 73%. 88% dos que leem livro digital fazem download gratuito.

9 Gêneros literários em suportes digitais: a liderança do conto e da poesia

A poesia passou ser um gênero dominante em redes como Facebook e Instagram: 27% dos respondentes a leem nesses ambientes) e 26% através do WhatsApp, mais do que o dobro do que em jornais ou revistas (12%).